segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Chutando o "poste" da Barraca...

Aproveitando o embalo da ida do Soderi ao Parigi, resolvi contar uma historinha que inicialmente não iria postar... Não quero parecer arrogante ou nada do tipo, por isso pensei 10 vezes antes de postar isso.

Mas como o propósito do nosso singelo e humilde blog é investigar, vamos a mais esta experiência.
Esse tem sido um ano interessante para mim, do ponto de vista turístico. Tive a oportunidade de rever Nova Iorque no início do ano e agora em Julho, graças à portaria da ANAC que abriu concorrência nos preços de passagens internacionais, pude ir a Paris. Estive em Paris apenas uma vez antes, em 1997, mochilando. Me acabei de comer croissant e crepe. Dessa vez decidi que seria um pouco melhor... Nada contra os croissants e os crepes.

Vamos ao que interessa. Fiz uma extravagância gastronômica do maior calibre possível sem pensar no rombo do cartão de crédito depois, afinal, como diz o ditado do viajante, "quem converte não se diverte." Resolvi que experimentaria a tal da Haute Cuisine francesa, pra entender os porquês de falarem tanto dela. Pesquisei alternativas, ponderei avaliações, pensei bastante e o restaurante escolhido foi o L'Atelier de Joël Robuchon. Bom, esse senhor é um dos poucos Chefs 3 estrelas do Guia Michelin (depois eu posto sobre isso, pra explicar um pouco do que se trata). Em Paris ele tem três restaurantes. Um dos motivos desse ter sido o escolhido é o fato de que neste a cozinha é exposta, já que ele não tem mesas, você come sobre um balcão que circunda a área de preparação. Portanto você olha tudo o que acontece e vê os chefs e cozinheiros preparando sua comida - numa cozinha francesa, isso pode ser um espetáculo.

Esse talvez seja o post mais difícil que eu já escrevi, porque tudo, desde a espera no lobby de um hotel, numa rua típica parisiense, foi uma experiência memorável. Ao entrar no restaurante e ver as pessoas lá dentro, preparando inúmeros pratos, como peças de um relógio, silenciosamente e coordenadamente é realmente de arrepiar. Me sentei então na lateral do balcão e me foi entregue o menu. Ele era dividido em duas partes, uma que era a degustação (você seleciona 5 pratos do menu e eles vêm todos em porção reduzida, assim você experimenta um pouco de cada coisa) e a outra que era o menu de fato, com os pratos e opções. Fui para a segunda parte.

Escolhi a entrada, um prato principal e a sobremesa. Pura poesia. Realmente as quantidades são pequenas, mas o prato é preparado como uma obra de arte. Escolhi de entrada o L'oeuf cocotte, dificílimo de explicar. Veio numa taça de dry martini, parecia mais um drink... Achei interessante, algumas texturas diferentes, mas até aí, era ovo. Passei então para o prato principal e aí a brincadeira começou. Bom, num restaurante francês pela primeira vez, eu tinha que pedir o tal do foie gras. O que, nesta pequena iguaria, pode ser tão incrível? Realmente não sei dizer, só sei que o cara que inventou de misturar o tal do fígado de ganso com as trufas da Itália realmente é um dos grandes gênios da humanidade. Aí eu entendi finalmente o porquê do prato ser tão pequeno. Como todo grande prazer na vida, ele dura pouco. Mas vale cada fração de segundo! O purée com trufas era uma coisa indescritível que, quando combinado com os pequenos pedaços de foie gras cuidadosamente cortados por minha faca, criam uma sensação dentro da boca que eu realmente não poderia imaginar, antecipar e/ou reproduzir de outra forma. E para acompanhar tudo isso, claro, um "vinho nacional" de Bordeaux: um Haut Mazeris 2005 cuidadosamente experimentado ao ser aberto pela sommelier da casa que após certificar-se de que o líquido estava bom, despejou-o em taças largas.
Por fim, como se isso fosse possível, veio a sobremesa. Um tipo de eclair bem delicado, com um creme de baunilha inacreditável, coberto por uma fina cúpula de chocolate, que, ao ser servido, recebe uma pequena jarra de mais chocolate quase incandescente. O resultado é que quando o líquido quente encontra a cúpula, ela aos poucos se derrete sobre o eclair. Vou parar por aqui, porque é praticamente uma tortura me lembrar daquilo.

Saí de lá feliz e pobre. Após pagar a fatura do cartão de crédito em prestações, posso dizer que foi, de fato, uma experiência gastronômica que nunca será esquecida - talvez a minha maior.

JLN

L'Atelier de Joël Robuchon - 5, rue de Montalembert, Paris 7th arrondissement.