O Nou é um pequeno restaurante localizado em Pinheiros, perto do Pirajá e do Brigadeiro. Tem um cardápio interessante, bons preços e é bastante concorrido no almoço, nos dias de semana.
A proposta não é original: comida de bistrô, variada sem ousadias, mas relativamente bem executada pelos cozinheiros da casa. É uma oa opção para um executivo mais sofisticado, sem cometer atentados contra o bolso. Mas não espere suspirar de alegria com um menu desgustação surpreendente: é básico, com algum charme.
A entrada foi uma saladinha de folhas com molho mostarda. Ponto. Acompanhou uma torrada com alichela (ou algo assim) que dormiu no forno alguns minutos a mais do que deveria. Ou era de ontem...
O prato principal foi um risoto de limão siciliano com milanesa de vitela. A vitela estava deliciosa, crocante e bem macia. Salvou o prato. Mas o risoto veio seco e duro, imperdoavelmente fora dos padrões para um prato tão simples. Como sobremesa, abacaxi com raspas de limão. E daí?
Bom, até pela frequência jovem e bonita, pelos preços razoáveis (algo em torno de 60 per capita, sem vinho), vale como opção executiva para uma sexta feira sem maiores pretensões (ou inspirações).
Nou - Rua Ferreira de Araújo, 419 - tel 2609 6939
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Uma proposta diferente
Baixei no Vito para um almoço executivo (de 3 horas...), matando a vontade de conhecer o trabalho do jovem chefe André Mifano. O restaurante é minúsculo, não dá para ir sem reserva, não tem manobrista e oferece um cardápio autoral que vai do óbvio (como pasta com molho de tomate e majericão) ao inusitado.
Fui de inusitado, claro. De entrada, a grande vedete do dia: polenta branca italiana com gema mole, gran padano e azeite trufado (uniqueness). Vale voltar lá só pra comer de novo. Adoro poleta, deve ser coisa da infância (dizem, e eu acredito, que nossa memória gustativa da primeira idade dita nossos gostos culinários pelo resto da vida). Mas essa polenta estava muito boa, mesmo.

Um honesto tinto italiano (pedido por um amigo, em taça, não me lembro o nome), completou o cardápio. De sobremesa, pedi uma inusitada torta de aborinha com glacê, regada com azeite. Interessante, mas um tanto pesadinha.
Como convidado educado que sou, não vi o total da dolorosa conta, mas calculo que girou em torno de 80 paus por pescoço, o que é razoável.
Vito - Rua Pascoal Vita, 329 - tel 3032 1469
Grelha de primeira linha
Merecidos os prêmios oferecidos ao Varanda Grill como uma das melhores churrascarias de São Paulo. Eles pilotam muito bem a grelha a carvão e trabalham com carnes de primeiríssima linha.
Quando abri o cardápio e bati o olho nas diversas variedades de kobe beef, fiquei macho e ensaiei um pedido ousado. Mas o bolso pinicou por baixo da calça e eu fiz uma retirada estratégica para o lado menos ofensivo do cardápio. Não dá pra pensar em pagar até 300 reais por um bife metido a besta, ainda que (provavelmente) valha cada centavo.
Como sou um pesquisador gastronômico amador, resolvi cravar o pedido em um menu básico comparável com o Rubayat, o concorrente mais famoso. Fui de picanha nobre, arroz biro-biro e batata sauté. A carne empatou: as casas se equivalem, no meu paladar, como detentoras do título de melhores do Brasil no quesito. A batata sauté do Rubayat é melhor, mais viva. E o biro-biro do Varanda (uniqueness) ganhou do seu criador mais famoso: mais molhado, saboroso, crocante. Foi a surpresa do dia.
Mandei um Catena Malbec pra acompanhar, meia garrafa, e a harmonia se fez, como esperado. De sobremesa, um mix de doces que não deixou lembranças. O café me fez pensar que o Rubayat ainda está um dedo à frente, mas relevei.
A conta doeu: 300 pilas, para dois, sem muito choro. Os preços de SP, como já postou o João, estão abusivamente indecentes.
Varanda Grill - Rua General Mena Barreto, 793 tel 3887 8870.
Quando abri o cardápio e bati o olho nas diversas variedades de kobe beef, fiquei macho e ensaiei um pedido ousado. Mas o bolso pinicou por baixo da calça e eu fiz uma retirada estratégica para o lado menos ofensivo do cardápio. Não dá pra pensar em pagar até 300 reais por um bife metido a besta, ainda que (provavelmente) valha cada centavo.
Como sou um pesquisador gastronômico amador, resolvi cravar o pedido em um menu básico comparável com o Rubayat, o concorrente mais famoso. Fui de picanha nobre, arroz biro-biro e batata sauté. A carne empatou: as casas se equivalem, no meu paladar, como detentoras do título de melhores do Brasil no quesito. A batata sauté do Rubayat é melhor, mais viva. E o biro-biro do Varanda (uniqueness) ganhou do seu criador mais famoso: mais molhado, saboroso, crocante. Foi a surpresa do dia.
Mandei um Catena Malbec pra acompanhar, meia garrafa, e a harmonia se fez, como esperado. De sobremesa, um mix de doces que não deixou lembranças. O café me fez pensar que o Rubayat ainda está um dedo à frente, mas relevei.
A conta doeu: 300 pilas, para dois, sem muito choro. Os preços de SP, como já postou o João, estão abusivamente indecentes.
Varanda Grill - Rua General Mena Barreto, 793 tel 3887 8870.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Overpriced
Não sei qual é a melhor tradução para essa expressão em Português, acho que vou com o bom e velho "caro"! Ontem, no "afã" de explorar e descobrir algum canto novo em SP, fui experimentar o tal do Serafina. Filial da rede norte americana que faz o maior sucesso em Manhattan - veio pra SP meio que nem o PJ Clark's. A principal diferença, na minha opinião, é que neste caso os gringos quiseram tirar o pé da lama.
Recentemente uma reportagem comparava os preços do Serafina tupiniquim com os do original. Claro, os mais ricos pagam mais, ou seja, os daqui são muito mais altos! A justificativa? A mesma da indústria automobilística: impostos... Mas assim como na indústria automobilística, fazendo-se as contas, percebe-se que os impostos são altos, mas o mais alto mesmo é a vontade de ganhar uma bela margem.
Ontem eu estava básico e resolvi comer um gnocchi com grana padano. Estava bom, mas o grana padano passou longe dali. Bebi um honesto malbec argentino e comi uma focaccia de entrada. Por este banquete paguei R$100,00 a cabeça. Aparentemente, pela fila de espera de ontem, a maioria não pensa como eu.
E eu achando que uma refeição de 100 Euros na Itália era cara. Lá, pelo menos, o prato vinha coberto de trufas e o vinho era um Brunello. O negócio é mesmo abrir um restaurante. Soderi, pelo amor de Deus!!
Serafina - Alameda Lorena, 1705B, Jardim Paulista, São Paulo
Recentemente uma reportagem comparava os preços do Serafina tupiniquim com os do original. Claro, os mais ricos pagam mais, ou seja, os daqui são muito mais altos! A justificativa? A mesma da indústria automobilística: impostos... Mas assim como na indústria automobilística, fazendo-se as contas, percebe-se que os impostos são altos, mas o mais alto mesmo é a vontade de ganhar uma bela margem.
Ontem eu estava básico e resolvi comer um gnocchi com grana padano. Estava bom, mas o grana padano passou longe dali. Bebi um honesto malbec argentino e comi uma focaccia de entrada. Por este banquete paguei R$100,00 a cabeça. Aparentemente, pela fila de espera de ontem, a maioria não pensa como eu.
E eu achando que uma refeição de 100 Euros na Itália era cara. Lá, pelo menos, o prato vinha coberto de trufas e o vinho era um Brunello. O negócio é mesmo abrir um restaurante. Soderi, pelo amor de Deus!!
Serafina - Alameda Lorena, 1705B, Jardim Paulista, São Paulo
sábado, 30 de outubro de 2010
O Clássico dos Clássicos (fora o Polpetone)...
Como ainda estou pensando em como vou categorizar as experiências que passei na Itália, resolvi dividir aqui uma experiência simples, na verdade, um tira teima que tive a oportunidade de realizar. Bom, fora o Polpetone do Jardim de Napoli, quando penso num clássico de origem italiana, a primeira palavra (ou nome) que me vem à cabeça é "Alfredo". Combinado com Fetucine, forma uma denominação quase mitológica. O Fetucine Alfredo é muito, muito famoso no mundo inteiro, mas ao mesmo tempo representa uma grande confusão...
A começar por Roma, não dá pra saber realmente onde ele surgiu. Uma das histórias diz que o Alfredo, em 1914 estava super preocupado com sua mulher, grávida, que não conseguia comer nada. Ele então misturou três ingredientes básicos: fetucine feito com ovos, manteiga e queijo parmesão. Segundo a historinha, era tão simples, tão genial e tão saborosa a combinação que nem a mulher dele resistiu. Essa é a história contada em um dos endereços. No outro endereço, claramente de dono diferente, não tem a historinha, mas eles dizem estar lá desde 1907 fazendo o tal fetucine. Vai entender. De qualquer forma, o escolhido foi o segundo, por parecer mais sério e menos "turístico" do que o primeiro.
Vamos ao que interessa (ou não). A receita original, ao contrário do que se come normalmente em qualquer restaurante que tem o prato no cardápio (não é difícil encontrar um), leva somente estes três ingredientes numa ordem específica de preparo. Não tem nada de creme de leite cozido na panela, bacon ou qualquer outra coisa que não seja macarrão, manteiga e queijo parmesão de primeira. Vem tudo separado em uma travessa e a mistura é cuidadosamente feita pelo garçom já na mesa. Para dar certo, a manteiga tem que ser leve (batida na hora, a partir de creme de leite fresco), o queijo tem que ser de primeira, ralado bem fino (nada de saquinho, pelo amor de Deus!) e o fetucine tem que estar fervendo!
É bem simples e, tenho que concordar, genial. Uns dois anos atrás, eu fiquei obcecado por este prato, pesquisei, li, procurei e consegui reproduzi-lo em casa - não é difícil, só tem que ser feito com cuidado. A grande diferença do original fica por conta de dois detalhes: o queijo, que no caso deles é um parmigiano regiano (dá uma dó ralar um queijo assim aqui em SP) e a massa, que é fresca e muito, muito fina. Portanto, com bastante vontade, dá pra fazer igual, sem ter que ir pra Roma. Claro que tem o charme do lugar, as fotos dos atores, atrizes, artistas incrivelmente famosos que passaram por lá, mas vamos combinar: o que importa mesmo é a comida.
O sorriso de satisfação alcançado é o mesmo que se observa depois de comer um Polpetone. Portanto, são dois pratos que, na minha opinião, levam ao nirvana gastronômico...
Alfredo alla Scrofa - Via della Scrofa 104/a 00186 Roma
A começar por Roma, não dá pra saber realmente onde ele surgiu. Uma das histórias diz que o Alfredo, em 1914 estava super preocupado com sua mulher, grávida, que não conseguia comer nada. Ele então misturou três ingredientes básicos: fetucine feito com ovos, manteiga e queijo parmesão. Segundo a historinha, era tão simples, tão genial e tão saborosa a combinação que nem a mulher dele resistiu. Essa é a história contada em um dos endereços. No outro endereço, claramente de dono diferente, não tem a historinha, mas eles dizem estar lá desde 1907 fazendo o tal fetucine. Vai entender. De qualquer forma, o escolhido foi o segundo, por parecer mais sério e menos "turístico" do que o primeiro.
Vamos ao que interessa (ou não). A receita original, ao contrário do que se come normalmente em qualquer restaurante que tem o prato no cardápio (não é difícil encontrar um), leva somente estes três ingredientes numa ordem específica de preparo. Não tem nada de creme de leite cozido na panela, bacon ou qualquer outra coisa que não seja macarrão, manteiga e queijo parmesão de primeira. Vem tudo separado em uma travessa e a mistura é cuidadosamente feita pelo garçom já na mesa. Para dar certo, a manteiga tem que ser leve (batida na hora, a partir de creme de leite fresco), o queijo tem que ser de primeira, ralado bem fino (nada de saquinho, pelo amor de Deus!) e o fetucine tem que estar fervendo!
É bem simples e, tenho que concordar, genial. Uns dois anos atrás, eu fiquei obcecado por este prato, pesquisei, li, procurei e consegui reproduzi-lo em casa - não é difícil, só tem que ser feito com cuidado. A grande diferença do original fica por conta de dois detalhes: o queijo, que no caso deles é um parmigiano regiano (dá uma dó ralar um queijo assim aqui em SP) e a massa, que é fresca e muito, muito fina. Portanto, com bastante vontade, dá pra fazer igual, sem ter que ir pra Roma. Claro que tem o charme do lugar, as fotos dos atores, atrizes, artistas incrivelmente famosos que passaram por lá, mas vamos combinar: o que importa mesmo é a comida.
O sorriso de satisfação alcançado é o mesmo que se observa depois de comer um Polpetone. Portanto, são dois pratos que, na minha opinião, levam ao nirvana gastronômico...
Alfredo alla Scrofa - Via della Scrofa 104/a 00186 Roma
terça-feira, 12 de outubro de 2010
De Volta em Grande Estilo!
Peço desculpas de antemão aos incautos leitores do nosso humilde blog por postar algo que não seja de SP, do Brasil ou, vejam só, da América (seja ela do Sul, do Centro ou do Norte)! Mas hoje tive uma daquelas experiências gastronômicas que redefinem o ser! Coloquei na minha cabeça que só no final desta viagem, após o retorno para o meu sagrado lar, eu postaria sobre experiências e impressões da Itália. O que eu estou prestes a descrever realmente me tirou do centro e DEMANDOU com letras maiúsculas, assim mesmo, um relato imediato!
Estou, há exatos 10 dias, realizando um sonho antigo: descer a Itália de carro, partindo do Norte, indo até o Sul. Cumprirei metade deste sonho, percorrendo metade dela, até a altura de Roma (mais ou menos a metade mesmo, é só olhar no Google Maps). Bom, desde o dia 10, saí da Ligúria e entrei na Toscana, parando em primeiro lugar em Firenze. Confesso que minha expectativa para a Toscana era alta, esperando comer os mais fantásticos tipos de macarrão com os mais espetaculares molhos jamais experimentados - e até agora, isso aconteceu, principalmente experimentando algumas massas típicas de cada região (mas isso é assunto para outro post). Nada, nada mesmo, me preparou para o que eu acabei de viver: a Bisteca Fiorentina!
Meu Deus! Esse é um post épico, portanto vou abusar dos adjetivos e adjuntos adverbiais de intensidade! Para quem não sabe (e sério, se não souber, pode parar de ler o post e seguir para outro tipo de leitura, ou assistir novela, Big Brother, sei lá), a Bisteca é um T-Bone. Como todo bom T-Bone, é cortada com grande espessura e tem bastante gordura entremeada - crua, chega a parecer um pedaço de mármore. Mas só parecer, porque na verdade essa característica é o que dá a ela o potencial de ser uma das carnes mais macias! A gordura também tem outro propósito prático: deixar a carne extremamente saborosa!
Bom, a aventura de hoje começa com as indicações de duas pessoas: o Rogério, grande amigo e apreciador do Pasquale (um dos restaurantes preferidos do nosso blog) e do Edo (Edoardo), dono da pousada onde estamos aqui em Firenze. Rogério mencionou a tal Bisteca quando eu disse que vinha para a Itália e o Edo, logo que chegamos aqui, sugeriu a Osteria Godò para o "dia da carne".
Aceitamos a sugestão por ser de um local, e que aparentemente não é turístico numa cidade tomada por hordas nervosas deles. E na primeira impressão já sabia que tinha ido ao lugar certo! Começamos bem o jantar quando a garçonete que estava nos atendendo começou a pedir desculpas e explicar que não tem como fazer a bisteca bem passada - aliás, acho que qualquer hora vou fazer um post só pra explicar a todos que gostam do "bem passado" o valor nutricional que se perde, sem falar do sabor! Ok, nem precisei responder, só com o meu sorriso ela já sabia que estava falando com um cliente experimentado na arte da carne vermelha nervosa.
Pra acompanhar, uma porção de batatinhas ao forno, com azeite, sal e alecrim e um belo... Brunello! Se estava harmonizado ou não, eu não sei, só sei que estou na Itália, vou beber todos os Brunellos que puder! Este, no caso, era um Caparzo 2005 - Espetacular!!
Bom, eis que vem a marvada! Uma pintura, tão bem montada, suculenta, linda, que quase não tive coragem de garfá-la. 1, 2, 3, passou... Garfei o primeiro pedaço, coloquei no meu prato, um pouco de pimenta aromática (direto do moedor) em cima e... Meu DEUS!!! Derreteu na boca... Me lembrei do Jun Sakamoto dando o depoimento de que o sushi deve "se mexer" quando você o põe na boca. Pois bem, foi praticamente o que aconteceu com aquele pedaço maravilhoso de carne vermelha, suculenta, farta, perfeita. Antes do massacre, porém, tirei uma foto para compartilhar com todos aqui:
Mais um pouco e por pouco eu não ponho o osso todo na boca só para ter certeza de que não sobrou nada, que nem um grama seria desperdiçado! Sonharei com essa carne por anos a perder de vista! Foi uma experiência como poucas, soboreada com calma, com carinho.
E para terminar, como eu fui o responsável por grande parte da trituração de tal dádiva culinária, minha digníssima esposa ainda tinha espaço e disposição para a sobremesa. Como eu já não estava em condições de raciocinar, quem dirá entrar num embate sobre as calorias recomendadas para o jantar, ela pediu um milfolhas com morangos e creme Inglês. Também coloco a foto dele aqui, porque na opinião deste humilde fã da gastronomia, não me lembro de ficar tão tentado a comer um doce agressivamente:
Morangos frescos, massa milfolhas leve e estalando de crocante, creme amarelo vivo. Simples, maravilhoso, delicioso! Nessa hora achei que fosse ter que chamar o resgate para me trazer de volta ao hotel.
Pra finalizar e começar a preparar o espírito para a caminhada de 1,5km de volta (nem pensar em taxi, na verdade a vontade era de correr uma maratona), um espresso italiano - outro capítulo à parte, provavelmente um post só para falar disso - curto, quente, concentrado, saboroso.
Corpo fechado. Ser redefinido. Nunca mais serei o mesmo. E isso porque só estou começando a Toscana. Não sei se volto vivo!
Osteria Godò - Piazza Edison, 3/4r - Firenze - www.godofirenze.it
Estou, há exatos 10 dias, realizando um sonho antigo: descer a Itália de carro, partindo do Norte, indo até o Sul. Cumprirei metade deste sonho, percorrendo metade dela, até a altura de Roma (mais ou menos a metade mesmo, é só olhar no Google Maps). Bom, desde o dia 10, saí da Ligúria e entrei na Toscana, parando em primeiro lugar em Firenze. Confesso que minha expectativa para a Toscana era alta, esperando comer os mais fantásticos tipos de macarrão com os mais espetaculares molhos jamais experimentados - e até agora, isso aconteceu, principalmente experimentando algumas massas típicas de cada região (mas isso é assunto para outro post). Nada, nada mesmo, me preparou para o que eu acabei de viver: a Bisteca Fiorentina!
Meu Deus! Esse é um post épico, portanto vou abusar dos adjetivos e adjuntos adverbiais de intensidade! Para quem não sabe (e sério, se não souber, pode parar de ler o post e seguir para outro tipo de leitura, ou assistir novela, Big Brother, sei lá), a Bisteca é um T-Bone. Como todo bom T-Bone, é cortada com grande espessura e tem bastante gordura entremeada - crua, chega a parecer um pedaço de mármore. Mas só parecer, porque na verdade essa característica é o que dá a ela o potencial de ser uma das carnes mais macias! A gordura também tem outro propósito prático: deixar a carne extremamente saborosa!
Bom, a aventura de hoje começa com as indicações de duas pessoas: o Rogério, grande amigo e apreciador do Pasquale (um dos restaurantes preferidos do nosso blog) e do Edo (Edoardo), dono da pousada onde estamos aqui em Firenze. Rogério mencionou a tal Bisteca quando eu disse que vinha para a Itália e o Edo, logo que chegamos aqui, sugeriu a Osteria Godò para o "dia da carne".
Aceitamos a sugestão por ser de um local, e que aparentemente não é turístico numa cidade tomada por hordas nervosas deles. E na primeira impressão já sabia que tinha ido ao lugar certo! Começamos bem o jantar quando a garçonete que estava nos atendendo começou a pedir desculpas e explicar que não tem como fazer a bisteca bem passada - aliás, acho que qualquer hora vou fazer um post só pra explicar a todos que gostam do "bem passado" o valor nutricional que se perde, sem falar do sabor! Ok, nem precisei responder, só com o meu sorriso ela já sabia que estava falando com um cliente experimentado na arte da carne vermelha nervosa.
Pra acompanhar, uma porção de batatinhas ao forno, com azeite, sal e alecrim e um belo... Brunello! Se estava harmonizado ou não, eu não sei, só sei que estou na Itália, vou beber todos os Brunellos que puder! Este, no caso, era um Caparzo 2005 - Espetacular!!
Bom, eis que vem a marvada! Uma pintura, tão bem montada, suculenta, linda, que quase não tive coragem de garfá-la. 1, 2, 3, passou... Garfei o primeiro pedaço, coloquei no meu prato, um pouco de pimenta aromática (direto do moedor) em cima e... Meu DEUS!!! Derreteu na boca... Me lembrei do Jun Sakamoto dando o depoimento de que o sushi deve "se mexer" quando você o põe na boca. Pois bem, foi praticamente o que aconteceu com aquele pedaço maravilhoso de carne vermelha, suculenta, farta, perfeita. Antes do massacre, porém, tirei uma foto para compartilhar com todos aqui:
Mais um pouco e por pouco eu não ponho o osso todo na boca só para ter certeza de que não sobrou nada, que nem um grama seria desperdiçado! Sonharei com essa carne por anos a perder de vista! Foi uma experiência como poucas, soboreada com calma, com carinho.
E para terminar, como eu fui o responsável por grande parte da trituração de tal dádiva culinária, minha digníssima esposa ainda tinha espaço e disposição para a sobremesa. Como eu já não estava em condições de raciocinar, quem dirá entrar num embate sobre as calorias recomendadas para o jantar, ela pediu um milfolhas com morangos e creme Inglês. Também coloco a foto dele aqui, porque na opinião deste humilde fã da gastronomia, não me lembro de ficar tão tentado a comer um doce agressivamente:
Morangos frescos, massa milfolhas leve e estalando de crocante, creme amarelo vivo. Simples, maravilhoso, delicioso! Nessa hora achei que fosse ter que chamar o resgate para me trazer de volta ao hotel.
Pra finalizar e começar a preparar o espírito para a caminhada de 1,5km de volta (nem pensar em taxi, na verdade a vontade era de correr uma maratona), um espresso italiano - outro capítulo à parte, provavelmente um post só para falar disso - curto, quente, concentrado, saboroso.
Corpo fechado. Ser redefinido. Nunca mais serei o mesmo. E isso porque só estou começando a Toscana. Não sei se volto vivo!
Osteria Godò - Piazza Edison, 3/4r - Firenze - www.godofirenze.it
domingo, 19 de setembro de 2010
Repeteco gostoso...
O restaurante mais repetido nos dois anos de vida deste blog é o Pasquale. Motivos vários pra isso tenho: comida boa, ambiente agradável, espaço de reunião de amigos e uma história da qual tive o privilégio e a honra de participar com frequência e intromissão quase inconvenientes em vários anos de amizade com Pasquale Nigro, carcamano, filho da Puglia.
Pois volto hoje para registrar mais uma estrela para a minha cozinha do coração, eleita pela 4a. vez a melhor cantina italiana de S. Paulo. A Vejinha está nas bancas, o Pasquale continua em Pinheiros. Nos vemos lá (de onde escrevo este post, neste instante, brindando com vinho italiano e comendo uma sopressata ao lado do dito cujo, às portas fechadas, privilégio que não abro mão).

Salute, Pasquale!
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Due celebrazione

O Due Cuochi dispensa apresentações. Foi minha primeira vez na unidade do shopping cidade jardim, bem melhor estruturada que a "matriz" da Manuel Gudes (apertada, poucas mesas). Em boa companhia, sem pressa, degustamos um banquete de 3 horas, com direito a entradas, prato principal, sobremesas e duas excelentes garrafas de vinho.
Começamos com brusquetas, deliciosas, que complementaram um couvert farto, com pães maravilhosos e um patê de azeitonas e trufas que mal cabe na boca.
A sobremesa teve meu bolo de aniversário (torta mousse de chocolate com frutas vermelhas) e um ótimo petit gateau de limião siciliano com sorvete de baunilha. Recomendo fortemente!
Pelos dois anos deste blog e pelos meus 44 anos muito bem vividos, um brinde: SAÚDE!
Due Cuochi Cusina - Av. Magalhães de Castro, 12000 - Shopping Cidade Jardim
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
O Rio de Janeiro continua lindo
Rio de Janeiro com sol reduz um pouco as chances de incursões gastroexploratórias mais elaboradas. Fica-se na praia um tempão e mata-se a fome com mais simplicidade. O Rio com chuva torna o roteiro gastronômico quase que opção única. Pois choveu dia e noite...
Café da manhã de hotel (um prazer quase que obsceno apreciar o chapeiro manejando um omelete com precisão e destreza....), almoços tardios e jantares quase madrugadores foram a tônica de um fim de semana carioca cheio de frio e de chuva.
Primeira noite, pouca inspiração, experimentei o Gula Gula, um fast food meio metidinho com unidades em dois ou três bairros cariocas. Visitei o de São Conrado e achei uma proposta pretenciosa e supervalorizada (é citado em guias como uma opção boa e barata). Classifico como razoável e caro pelo que oferece. Caesar salad normal, fettuccini com tomate e manjericão e uma taça de tinto para ajudar a descer, 60 paus por cabeça. Não é pra tanto...
Pelo menos a sobremesa foi compensadora, em outro lugar. Fui a um quiosque do Mil Frutas e cometi duas mega caloróricas e estupendas bolas de sorvete, uma de chocolate com raspas de laranja, outra de beijinho (o doce!). Sensacional, como sempre.

Para jantar, bem de noitinha, fui conhecer a CT Brasserie, do Claude Troisgros, também em São Conrado. Lugar agradável, apesar de estar dentro de um shopping center, com uma cardápio bem interessante e carta de vinhos honesta. Pedi um filé de pargo grelhado com tomate confit e vinagrete de limão siciliano. A Fe pediu um risoto de brie, jamón e rúcula. Ambos os pratos muito bem feitos, sofisticados no preparo e na apresentação. Tomamos um Chablis ler Cru Montmain 2008, delicioso, que hamonizou perfeitamente com o peixe que pedi.
Por fim, fechei minha passagem carioca com um almoço de boteco. Revisitei o antigo e tradicional Belmonte, no Jardim Botânico, onde come-se um dos melhores salgados do Rio, na minha opinião. Ao invés de ficar só nas empadas e risoles que sempre gostei, fui me meter a pedir um filé a parmegiana e (quase) dancei. Não sei se é tradição carioca ou coisa assim, mas eles cometem dois crimes no preparo do prato: metem presunto na receita e temperam o molho de tomate com uma dose cavalar de cominho (!), termpero que transforma qualquer coisa em outra diferente do que deveria ser (a exemplo do excesso de coentro da cozinha nordestina clássica). Enfim, nem sempre se acerta em tudo, mas o Rio de Janeiro vale a viagem. E continua lindo e gostoso.
Nota do fim de semana: se temos a pretensão de sediar Jogos Olímpicos e Copa do Mundo no Rio de Janeiro, a cidade tem que passar por uma revolução nos serviços que oferece. Da locação de carros às informações nos aeroportos, táxis, trânsito, passando pela capacitação dos funcionários de hotéis e restaurantes, tudo, mas TUDO mesmo necessita de mudanças radicais na qualidade do que é oferecido. O nível dos serviços, com, raríssimas exceções, está nos patamares de Uganda ou do leste da Namíbia.
Gula Gula - Estrada da Gávea, 899 - 2o piso (SCFM) - Rio de Janeiro
Bracarense - Rua José Linhares, 85 - Leblon - RJ
CT Brasserie - Estrada da Gávea, 899 - 3o piso (SCFM) - Rio de Janeiro
Bar Belmonte - Rua Jardim Botâncio, 617 - RJ
segunda-feira, 26 de julho de 2010
O melhor está no balcão
A cozinha árabe (e/ou síria-libanesa) tem grandes representantes em São Paulo. A colônia espalhou suas esfihas, kaftas e michuis por toda a cidade, do Bom Retiro aos Jardins. Colocando literalmente à parte as aberrações do gênero, caso do Habbib's e congêneres, a tradição da culinária árabe tem sido bem representada por casas como o Arábia, a Brasserie Victoria e o Almanara, só para citar alguns dos mais famosos.
No último fim de semana, revisitei um dos meus favoritos: o Halim, no Paraíso. É um típico árabe que começou em uma pequena portinha aberta pra rua, vendendo esfihas e doces sírios, e acabou crescendo e ampliando suas mesas e o seu cardápio.
Tudo isso chama atenção já nas vitrines da entrada. Minha recomendação é que você pare por ali, peças seus salgados, não deixe de comer pelo menos uma sobremesa (acompanhada de café árabe, claro) e ainda leve alguma coisa pra casa, para um segundo tempo.
Halim Restaurante - Rua Doutor Rafael De Barros, 56 - Paraíso - São Paulo
Almocei uma refeição completa, com pastas e esfinhas de entrada, kafta e arroz marroquino como prato principal, fechando com uma pequena seleção de doces especias. Tudo muito correto, apesar do prato principal ter chegado à mesa uns três ou quatro graus abaixo da temperatura ideal.
O ponto é que o Halim é melhor no balcão do que nas mesas... Vale muito mais a pena você ficar nas esfihas, quibes e doces da entrada do que se aventurar ao menu completo oferecido em suas mesas. As esfihas são excelentes, incluindo uma fechada de escarola que é divina, os kibes são excepcionais e os doces... Bom, os doces são um ponto fora da curva. Todos merecem ser experimentados, sem dó nem piedade. Desta última vez dei uma maneirada e comi apenas três... Um malabie (creme com calda de damasco e água de flor de laranjeira), um pastel de nata coberto com mel (não me lembro o nome áreabe deste doce) e um doce de semolina e pistache (uniqueness!) muito, mas muito gostoso mesmo.
Halim Restaurante - Rua Doutor Rafael De Barros, 56 - Paraíso - São Paulo
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Clássico!

Aterrisei no quase sexagenário La Casserole, no largo do Arouche (quer endereço mais charmoso?), mesa para quatro. Sem mais delongas, fui ao tradicional (mas fora do cardápio, saibam) Cassoulet. A feijoada com biquinho, francesa, perfumada. Clássica. E deliciosa.
De sobremesa, profiteroles com sorvete de creme e um mix degustação com 6 mini sobremesas. Café e a conta (cara, quase 600 paus) garçon, por favor. Nada mau para um sábado a noite que quase terminou em pizza.
La Casserole - Largo do Arouche, 346 - Centro - São Paulo
Boa pedida
Finalmente resolvi conhecer o Maní, celebrado resturante da chef Helena Rizzo, considerada uma das grandes representantes da cozinha brasileira da nova geração (existia a velha geração?).
É uma ótima proposta, baseada num conceito sustentável, dos móveis de madeira certificada ao cardápio com produtos orgânicos. As opções criativas chamam a atenção, da entrada à sobremesa. O couverte é excelente, com pães deliciosos e um biscoito de polvilho com sal grosso muito, mas muito bem feito.
Experimentei um ovo perfecto para começar. Ovo cozido lentamente a 63 graus, por duas 2 horas e meia, banhado em espuma de pupunha. Gostoso, mas não arrancou suspiros deste amante de ovos bem feitos.
No prato principal, mandei uma pescada amarela ao forno, com terrine de batatas, cebola e tomates. Muito gostoso, regado com um suave vinagrete de alho e alecrim. O peixe estava no ponto perfeito, muito perfumado. Harmonizaria muito bem com um Chardonnay, se vinho houvesse na casa... taí o pecado número 1.
A Fernanda pediu um talharim de pupunha com parmesão a azeite trufado. Adorei a pedida. Muito bem feito, suave e no ponto exato, talvez com um dedo a menos de azeite do que seria desejável.
De sobremesa, rachamos o ponto alto do almoço (aliás, a casa tem menus diferentes para o almoço e jantar): uma composição de bananas carameladas, com gelatina de gengibre, farofa de rapadura, doce de leite e sorvete de açaí (acho que é isso aí, se não esqueci nada...). Parace uma mistureba, mas é bom prá caramba. Delicioso com um café bem forte para acompanhar.
Pecado número 2: atendimento meio atrapalhado no dia escolhido (um sábado comum, sem jogo do Brasil nem nada). Nosso prato foi "esquecido" e, entre a entrada e a chegada do meu peixe, passaram-se bem uns 45 minutos. Na mesa ao lado, problemas "audíveis" com o ponto da carne... Espero que sejam apenas "azares" de uma tarde de inverno. Na conta geral, é um resurante que merece repeteco.
Maní - Rua Joaquim Antunes, 210 - Jardim Paulistano - SP
É uma ótima proposta, baseada num conceito sustentável, dos móveis de madeira certificada ao cardápio com produtos orgânicos. As opções criativas chamam a atenção, da entrada à sobremesa. O couverte é excelente, com pães deliciosos e um biscoito de polvilho com sal grosso muito, mas muito bem feito.
Experimentei um ovo perfecto para começar. Ovo cozido lentamente a 63 graus, por duas 2 horas e meia, banhado em espuma de pupunha. Gostoso, mas não arrancou suspiros deste amante de ovos bem feitos.
No prato principal, mandei uma pescada amarela ao forno, com terrine de batatas, cebola e tomates. Muito gostoso, regado com um suave vinagrete de alho e alecrim. O peixe estava no ponto perfeito, muito perfumado. Harmonizaria muito bem com um Chardonnay, se vinho houvesse na casa... taí o pecado número 1.
A Fernanda pediu um talharim de pupunha com parmesão a azeite trufado. Adorei a pedida. Muito bem feito, suave e no ponto exato, talvez com um dedo a menos de azeite do que seria desejável.
De sobremesa, rachamos o ponto alto do almoço (aliás, a casa tem menus diferentes para o almoço e jantar): uma composição de bananas carameladas, com gelatina de gengibre, farofa de rapadura, doce de leite e sorvete de açaí (acho que é isso aí, se não esqueci nada...). Parace uma mistureba, mas é bom prá caramba. Delicioso com um café bem forte para acompanhar.
Pecado número 2: atendimento meio atrapalhado no dia escolhido (um sábado comum, sem jogo do Brasil nem nada). Nosso prato foi "esquecido" e, entre a entrada e a chegada do meu peixe, passaram-se bem uns 45 minutos. Na mesa ao lado, problemas "audíveis" com o ponto da carne... Espero que sejam apenas "azares" de uma tarde de inverno. Na conta geral, é um resurante que merece repeteco.
Maní - Rua Joaquim Antunes, 210 - Jardim Paulistano - SP
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Dois portenhos na balança
Comparar as churrascarias brasileiras com as de Buenos Aires é fácil. Sempre se reduz a discussão aos cortes diferentes e uma ou outra característica distinta entre as duas escolas. No final, brasileiros estufam o peito com os seus rodízios qualificados (Fogo de Chão sempre é referência) e os hermanos rebatem com suas carnes de primeira e cortes "definitivos".
Semana passada tive a oportunidade de comparar duas churrascarias portenhas, em Buenos Aires. Duas escolas parecidas, mas com acentos um tanto diferentes. Uma tradcional, frequentada pelos moradores de BAs, o antigo e delicioso El Mirasol. Na outra ponta da balança, a internacional Cabaña las Lilas, sempre coalhada de turistas (principalmente brasileiros) .
Resultado da peleja: empate técnico, com uma forte recomendação a quem nos lê. Vale a pena pegar um avião até Buenos Aires, para um tour gastronômico. Pelas parrillas, pelas mollejas, pelo dulce de leche, pelo câmbio favorável, pelo charme de Buenos Aires.
El Mirasol - Av. Alicia Moreau de Justo 202 - Puerto Madero - Buenos Aires
Cabaña Las Lilas - Av. Alicia Moreau de Justo 550, 2ª Piso - Puerto Madero - Buenos Aires

Na Mirasol, comecei com uma maravilhosa, deliciosa, sensacional porção de Mollejas. Sempre me pergunto porque não conseguimos reproduzir aqui no Brasil a qualidade deste delicioso prato. Sem resposta. Na sequência, mandei um ótimo ojo de bife, quase meio quilo de carne muito bem assada na parrilla. Para acompanhar, papas fritas a espanhola (sequinhas, macias, estufadas, muito saborosas). Para beber, um Alto Las Hormigas Reserva Malbec, 2007. Perfeito. E ainda mandei uma panqueca de dulce de leche muito gostosa (mas que perde para o helado de dulce de lechhe do Freddo, que é outra história...). Tudo isso e mais um pouco (afinal, éramos dois na mesa) por menos de 120 reais. Um salve para o deus do câmbio favorável e à querida Cristina Kirchner!
No classudo Cabaña Las Lilas, repeti a entrada de mollejas, igualmente ótimas. Como prato principal, destrui um Vacio, acompanhado de arroz Las Lilas - uma adpatação fiel do nosso arroz biro-biro, tradicional no nosso Rubayat. Aí está o ponto: por serem dos mesmos donos, Las Lilas e Rubayat são muito iguais... Isso não é ruim, já que o Rubayat é uma das melhores (senão a melhor) casa de carnes do Brasil. Mas essa semelhança puxa para uma padronização meio sem graça... Enfim, a carne estava deliciosa, como sempre. A Fernanda pediu um assado de tira, sensacional (a melhor carne que provamos, sem dúvida).Tudo isso acompanhado de outro tinto portentoso, desta vez um Catena Zapata 2005. De sobremesa, mais uma panqueca de dulce de leche com sorvete de creme, bem gostosa. Preço? Algo em torno de 300 reais. No Rubayat, com este vinho, a conta ficaria o dobro. Viva o real valorizado, viva a economia argentina, viva o obelisco, viva o Maradona!Resultado da peleja: empate técnico, com uma forte recomendação a quem nos lê. Vale a pena pegar um avião até Buenos Aires, para um tour gastronômico. Pelas parrillas, pelas mollejas, pelo dulce de leche, pelo câmbio favorável, pelo charme de Buenos Aires.
El Mirasol - Av. Alicia Moreau de Justo 202 - Puerto Madero - Buenos Aires
Cabaña Las Lilas - Av. Alicia Moreau de Justo 550, 2ª Piso - Puerto Madero - Buenos Aires
quarta-feira, 28 de abril de 2010
É de boa família, mas...
O título pode enganar, então esclareço logo de cara: o restaurante é bom. Mas eu esperava um pouco mais, sendo o tal da estirpe do Due Cuochi... Experimentei o Le Marais, um bistrô bem montado no Itaim, com leve pendor para os pescados e afins.
O cardápio é simples, clássico. Tem de steak tartare à croque monsieur, passando por convidativas opções de risotos, carnes e peixes. Pedi um fílé de linguado com um suave molho de alcaparras, acompanhado de excelente purê de mandioquinha gratinado. A Fernanda pediu uma espécie de rosbife regado a molho bernaise, acompanhado de batata gratinada. Os pratos corretos, bem servidos, mas nenhume deles me fez suspirar de satisfação, muito menos chorar de emoção. Como disse, sendo filho do Due Cuochi, a régua estava alta...
A carta de vinhos é pequena, mas bem escolhida. Achei o sobrepreço excessivo em alguns rótulos (um Montes Alpha CS 2007 estava custando 180 paus, quase o dobro do que se paga na importadora). Tomamos um Chardonay argentino, meia garrafa, que esqueci a marca, bem razoável.
O ponto negativo ficou para o serviço, um tanto impessoal e frio, e para o som ambiente, muito alto (pedimos para abaixar e o garçom antipático fingiu que atendeu) e recheado de músicas francesas - chatas e enjoativas como só os franceses conseguem fazer...
Por fim o preço: padrão Due Cuochi, onde duas pessoas e uma gafafa de vinho não resultam em nada com menos de 3 dígitos na conta.
Le Marais - Rua Jerônimo da Veiga, 30 - Itaim Bibi
O cardápio é simples, clássico. Tem de steak tartare à croque monsieur, passando por convidativas opções de risotos, carnes e peixes. Pedi um fílé de linguado com um suave molho de alcaparras, acompanhado de excelente purê de mandioquinha gratinado. A Fernanda pediu uma espécie de rosbife regado a molho bernaise, acompanhado de batata gratinada. Os pratos corretos, bem servidos, mas nenhume deles me fez suspirar de satisfação, muito menos chorar de emoção. Como disse, sendo filho do Due Cuochi, a régua estava alta...
A carta de vinhos é pequena, mas bem escolhida. Achei o sobrepreço excessivo em alguns rótulos (um Montes Alpha CS 2007 estava custando 180 paus, quase o dobro do que se paga na importadora). Tomamos um Chardonay argentino, meia garrafa, que esqueci a marca, bem razoável.
O ponto negativo ficou para o serviço, um tanto impessoal e frio, e para o som ambiente, muito alto (pedimos para abaixar e o garçom antipático fingiu que atendeu) e recheado de músicas francesas - chatas e enjoativas como só os franceses conseguem fazer...
Por fim o preço: padrão Due Cuochi, onde duas pessoas e uma gafafa de vinho não resultam em nada com menos de 3 dígitos na conta.
Le Marais - Rua Jerônimo da Veiga, 30 - Itaim Bibi
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Na Casa do Chapéu...
Já tinha lido sobre esse restaurante... Talvez pela tal da entrada com porta pivotante ou talvez pelo histórico de uma das sócias, que já passou pelas cozinhas de outros ilustres de SP... O fato é que num sabadão daqueles, com um sol de rachar e a perspectiva de encontrar lugares lotados, apontei a proa para o Ipiranga e fui conferir pessoalmente o Nico Pasta & Basta.
Confesso que para quem não vai muito para aqueles lados, dá uma preguiça andar a Ricardo Jafet quase que inteira, mas vale a viagem. Uma vez no bairro, o lugar é fácil de ser encontrado, até porque ele tem um lado externo modernoso, que não orna muito com o que está em volta. A entrada realmente é muito bacana, com uma porta pivotante gigante e ladrilhos hidráulicos coloridos por toda a volta. Lá dentro, o salão é amplo, com pé direito bem alto, um teto de vidro e a cozinha, atrás de um vidro, toda exposta ao fundo. No dia que eu e o Soderi passarmos para atrás dos balcões, quero que seja assim... E by the way, a tal da chef estava lá.
A Aline pediu um prato que estava impecável, a polenta com calabreza. Sensacional! De qualquer jeito, quero voltar lá, de preferência à noite, pra experimentar a carta de vinhos dos caras. E aí vou para alguma coisa diferente, testar de verdade esse cardápio.
Confesso que para quem não vai muito para aqueles lados, dá uma preguiça andar a Ricardo Jafet quase que inteira, mas vale a viagem. Uma vez no bairro, o lugar é fácil de ser encontrado, até porque ele tem um lado externo modernoso, que não orna muito com o que está em volta. A entrada realmente é muito bacana, com uma porta pivotante gigante e ladrilhos hidráulicos coloridos por toda a volta. Lá dentro, o salão é amplo, com pé direito bem alto, um teto de vidro e a cozinha, atrás de um vidro, toda exposta ao fundo. No dia que eu e o Soderi passarmos para atrás dos balcões, quero que seja assim... E by the way, a tal da chef estava lá.
Bom, vamos ao que interessa... Não sei qualificar a carta de vinhos do local. Bebi foi cerveja mesmo, o dia estava muito quente. A cerveja estava perfeita. O local não estava cheio, então acho que a falta de giro ajudou. O couvert é ótimo, pão delicioso, variedade nos acompanhamentos. Ofereceram uma tal de muzzarella de búfala que estava bem bonita, mas já tinha tanta coisa que não experimentamos. O cardápio é variado. Não é nem cantina, nem restaurante francês, fica no meio do caminho. Tem uns pratos mais sofisticados, outros mais simples. Fui no simples: gnocchi. Muito bom, leve, gostoso, mas com um pecadinho... Fala baixo por favor: tinha um pouco de creme de leite no molho de tomate! Mas tudo bem, tava gostoso mesmo assim. Vou até colocar a foto.

Na minha opinião vale a pena experimentar. Lugar diferente, bonito, serviço muito, muito bom. E no almoço de Sábado, uma ótima opção, já que não é o horário cheio deles. Se quiser fugir das filas de espera, vá ao Nico.
Nico Pasta & Basta - Rua Costa Aguiar, 1586, Ipiranga - www.nicopastabasta.com.br
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Cerveja é que é coisa de homem!
E ontem, passeando pelos domínios do Itaim, após uma frustrada tentativa de incursão ao recém inaugurado Bottega Botta Gallo (casa que tem como sócios os caras do Original), ficamos eu e Soderi à deriva num momento pós chuva. Entre um semáforo e outro, tomando fechada de taxista e desviando de filas duplas, me lembrei de um simpático restaurante onde estive anos atrás, chamado Forneria Tamandaré. Ele ficava na Almirante Tamandaré, travessa da Renato Paes de Barros. Fomos para lá. Ao chegar na dita rua, a surpresa: era a mesma rua do Pomodori e eu não me lembrava disso. E também, mais para dentro, lá estava ele, o mesmo estabelecimento que eu conhecia, só que remodelado, provavelmente de novo dono, agora chamado Vino! Olhamos para os dois, pensamos e, depois de uma rápida discussão sobre a recente migração de tubarões brancos da Nova Zelândia para Fiji, decidimos ficar com o Pomodori.
E lá estávamos, não propriamente vestidos para o ambiente (e cagando e andando para isso - aos mais sensíveis, peço desculpas pelo palavreado), olhando os pratos em volta e antecipando que teríamos uma refeição com R maiúsculo. Bom, após iniciarmos com uma Erdinger bem gelada fomos ao cardápio e por incrível que possa parecer não batemos o olho em nada com tomate, mas no Ossobucco com Risotto Milanese. Prato simples, com molho de redução de vinho, mas vou deixar para o Soderi comentar pois foi ele o felizardo que pediu o dito cujo. Perdendo no par ou ímpar eu fui para o Escalope de Vitela Milanese com Risotto de Funghi Porcini - perfeito também! Desde minha última ida ao Due Cuochi eu não comia um Risotto fora de casa com este grau de perfeição e al denti. Já que é para ser chato, o Escalope estava um pouco exagerado no óleo de fritura, mas nada que comprometesse a integridade molecular do prato. O único jeito mesmo de melhorar este jantar, seria o acompanhamento de um vinho... Mas num jantar entre amigos, no caso dois, pareceria romântico demais dividir uma garrafa... Cerveja é que é coisa de macho! Garçom, vê duas aí! (JLN)
Assino embaixo do que o João escreveu: foi um jantar digno de nota. A entrada cortesia do chef foi um (um mesmo!) ravioli de abóbora ao molho de manteiga e sálvia. Bonitinho, mas ordinário. Sem graça quando comparado ao prato principal.

Por mais que o João afirme (e desdenhe) que estávamos inapropriadamente vestidos para o Pomodori, eu me considero bem trajado para o local, com minha camisa de marinheiro. Tava bonitinho e nem notei a Adriane Galisteu comendo salada com vento na mesa ao lado.

Meu ossobuco banhado numa redução de vinho tinto estava no ponto perfeito. Foi devorado sem a ajuda da faca, dispensável para o ponto da carne. Ornou muito bem com o risoto milanse, no ponto exato, saboroso, amarelo vivo, salpicado com os pistilos de açafrão que lhe deram a cor. Seria perfeito se acompanhado de um Barollo ou algum outro tinto bem encorpado. Mas a cerevja desceu bem e, como disse o João, não deu margem para comentários brokebackmountain. (MS)
sábado, 16 de janeiro de 2010
50!
50 posts publicados em um ano e quatro meses formam um razoável elenco de impressões variadas sobre comes & bebes. No mínimo, é um roteiro para o Imposto de Renda rastrear onde temos investido um bom pedaço do nosso dinheiro ao longo destes últimos 16 meses... Investimento prazeroso, registre-se. De qualquer forma, tanto o dinheiro gasto quanto os palpiltes sobre cada prato experimentado parecem não ter chamado muito a atenção nem de internautas desavisados, nem da receita federal, apesar dos esforços literários, das calorias ingeridas e das faturas dos cartões de crédito...
Este post número 50 - bem como cada uma das linhas digitadas neste blog gastropinativo - simboliza e acalenta o desejo confesso dos seus autores de, algum dia, saltar para o outro lado do balcão. Queremos desgustar e oferecer; desejamos comer e cozinhar; adoramos criticar e adoraríamos ser vidraça... Um belo dia, mais cedo ou mais tarde, publicaremos o último post como comensais e convidaremos para a inauguração da nossa casa, do nosso bar, do nosso restaurante. E esperamos, com fé e confiança, que o novo empreendimento faça mais sucesso e atraia mais a atenção do que este querido mas quase anônimo blog...No meio desta semana experimentamos o Saj, um libanês bem montado no meio dos bares da Vila Madalena, eleito pela Vejinha como o melhor Bom e Barato do ano passado.
O lugar é pequeno e agradável e, de fato, merece o título pretencioso que recebeu da revista. É bom (sem ser ótimo) e barato. Pedimos esfihas de entrada, junto com kibe cru (tradicional e indispensável para a avaliação de um árabe-libanês), chancliche e uma porção variada de pães. Como pratos principais, fomos de kafta e arroz com lentinhas.
Na minha leitura, o ponto forte foi justamente o ótimo kibe cru, muito saboroso na combinação com o queijo temperado. Já vi vários restaurantes árabes mais "estrelados" escorregarem no preparo deste prato tradicional. O segundo destaque veio com a conta: um farto jantar, variado e regado a cerveja Original, por pouco mais de 50 pilas por cabeça. Barato. E bom. (MS)
Pra complementar o post do Soderi, eu queria comentar justamente a porção de pães. Não é segredo pra ninguém que me conhece que o melhor pão sírio de SP, na minha opinião, é o do Brasserie Victória... Mas no Saj, o simpático foi eles servirem o pão folha, que nem sempre vem à mesa nos sírio-libaneses. Muito bom, leve, quente e saboroso. Combinou muito bem com o kibe cru, a coalhada seca e o chancliche. O pão sírio ficou em segundo lugar - melhor posicionado no meu ranking do que, como diz o Soderi, muito restaurante estrelado por aí. Realmente o restaurante não impressiona em nenhum item isolado, mas vale pelo "conjunto da obra". Boa pedida! (JLN)
Saj - Rua Girassol, 523 - Vila Madalena (www.sajrestaurante.com.br)
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